Nada de perfume ou talco, nem calcinhas de material sintético, preferencialmente. Nossa vagina deve ser tratada com o mesmo cuidado e delicadeza que dispensamos aos olhos, adverte o ginecologista José Antônio Simões, professor assistente da faculdade de medicina da Unicamp e pós-doutorado em microbiologia vaginal na Universidade de Rush, em Chicago. Ela é suscetível ao estresse, a antibióticos e a condições adversas como o uso contínuo de absorventes ou de jeans muito apertados. A região vaginal precisa de ventilação para se manter saudável, antes de tudo.

O termomêtro da saúde vaginal é o índice de PH, ou potencial hidrigeniontico. O PH mede o grau de acidez ou alcalinidade de uma substância.A água, por exemplo, uma substância reconhecidamente neutra, tem índice 7 de PH. O Ph da vagina saudável é ácido, ou seja, mais baixo do que 7. Seu grau normal varia de 3,8 a 4,2. É esta a condição ideal de sobrevivência dos Bacilos de Doderlein, também conhecidos como lactobacilos, representantes da flora microbiana que povoa o ambiente vaginal saudável. A redução do nível de lactobacilos na vagina é a principal causa das irritações e infecções que, vira e mexe, nos incomodam e nos obrigam a correr para o ginecologista. O tratamento com antibióticos pode diminuir o nível essa flora da mesma forma que mata bactérias. Situações de estresse e de baixa da resistência do organismo, dependendo do impacto, causam o mesmo efeito e podem produzir infecções. A aproximação da menopausa e as mudanças que o desequilíbrio hormonal produzem também afetam O PH.

Se o resultado da queda brusca no equilíbrio da flora microbiana é um PH vaginal mais ácido, ficamos sujeitas ao ataque de fungos como a Cândida, que provoca coceira intensa e o corrimento branco, com aparência de coalhada, chamado de candidíase. Se o desequilíbrio torna o PH mais alcalino, estamos expostas à ação da bactéria tricomonas, que prolifera nesse meio. E também ficamos vulneráveis à vaginose, outra infecção provocada pelo PH mais alcalino, caracterizada por mau cheiro perceptível, principalmente após a relação sexual.

Existem remédios caseiros capazes de corrigir o PH, especialmente quando é pequena a variação de acidez. Eles podem aliviar uma irritação corriqueira ou mesmo a coceria excessiva, e vale a pena conversar com seu médico sobre eles. Para diminuir o grau de alcalinidade da flora vaginal, que sujeita a região ao ataque da tricomoníase ou à vaginose, um banho de assento com vinagre diluído em água na proporção de meio copo de vinagre para um a dois litros de água, por exemplo, pode ser a salvação momentânea. Quando o PH aumenta de acidez, expondo o meio vaginal ao fungo da candidíase, uma colher de sopa de bicarbonato dissolvido num copo de água pode trazer alívio imediato. As soluções devem ser aplicadas diretamente na vagina, com o auxílio de uma seringa (sem agulha).

Tais procedimentos devem estar de acordo com indicações de seu médico ginecologista, naturalmente. A única intervenção caseira que se pode utilizar sem a orientação médica é o banho de assento com chá de camomila. A planta é um anti-inflamatório natural muito bom, que alivia muitos os sintomas de irritação.

O uso de iogurte e de produtos com lactobacilos é visto com ressalvas pelos médicos. As duas substâncias podem equilibrar o PH, mas nada comprova que realmente ajudem a repor o nível dos bacilos de Doderlein e, portanto, recuperar a flora microbiana vaginal. A busca de uma cepa de lactobacilos adequada a este fim é hoje objeto de pesquisa no mundo todo. Mas segundo o médico Simões, esta é uma pesquisa complexa. "As cepas variam entre as populações femininas de acordo com as diferenças de clima, vestuário e alimentação e, assim, os lactobacilos das asiáticas, por exemplo, não são iguais aos das americanas, e os das brasileiras também são diferentes."

Saiba como cuidar bem da sua vagina

Para evitar as alterações de PH que produzem os malfadados corrimentos vaginais e, principalmente, impedir que eles se transformem em corrimentos crônicos é importante observar hábitos de higiene e certos cuidados com a região.

EVITAR:

- Perfume ou talco, papel higiênico e modess perfumado; - Sabonetes muito perfumados, que podem causar coceiras e irritação; - Usar modess sem estar menstruada ou roupa apertada, que impede a ventilação e contribui para aumentar a umidade na região; - Lavagens vaginais indiscriminadas, que não foram indicadas pelo ginecologista, podem ser prejudiciais

PREFERIR:

- Usar calcinha de algodão, de preferência inteira de algodão e não só com o fundo de algodão e o resto de material sintético; - Dormir sem calcinha; - Fazer banhos de acento com chá de camomila (sem açúcar) quando sentir irritação. A camomila é um ótimo anti-inflamatório natural; - Secar cuidadosamente a região genital após o banho e, no toilete, sempre usar o papel higiênico da frente para trás; - Trocar a roupa quando esta estiver úmida; - Arejar e ventilar o máximo a região, sempre que possível.

José Antônio Simões é professor-assistente doutor do departamento de Tocogincologia da FCM da Unicamp - Universidade de Campinas, especializado em microbiologia vaginal.

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